quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Hoje é Dia de Maria



Pôster da série

Imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjysKc4OjhRiRW4QQxQDLSXTinYi69raGjZ2mXJISgDj4kMklRMUE4MFdDomKfD9Dpc-MusoUMcwpE3DFJf3y0qaN-_g-3K92a_jGtXM1P6pI7AdgCKf0gPcBQ7kGO0cFvJuSaYeuxWKv7D/s1600/hojeedia1.jpg


Hoje é dia de Maria é uma micro-série em 8 episódios, produzida pela Rede Globo e levada ao ar durante o mês de janeiro de 2005. O programa resgata elementos do folclore e cultura popular brasileiros para criar uma história totalmente nova que se passa em um Brasil mágico e atemporal, mas que, como toda boa mitologia, nos faz refletir sobre o mundo ao nosso redor e os absurdos que existem nele bem mais do que em qualquer fantasia.

A série narra a história de Maria (Carolina Oliveira), uma garota esperta e sagaz que vive no sertão. Ela mora em uma roça que já deu de comer para muita gente, mas que hoje está abandonada, pois seu Pai (Osmar Prado) passou a beber após a morte da esposa e da partida dos irmãos de Maria em busca de uma vida melhor longe dali. Um dia, aparece na roça a Madrasta (Fernanda Montenegro), uma viúva que Maria acredita poder curar a tristeza do pai se casando com ele. Porém, após o casamento, Maria descobre que a Madrasta é uma megera e deseja apenas enriquecer as custas do marido e explorá-la com os serviços domésticos. Então, Maria foge de casa em busca das franjas do mar com uma chavinha, dada por sua mãe, que ela acredita ser capaz de abrir seu mais precioso tesouro. Para atingir sua meta, a jovem viverá aventuras em sua tentativa de atravessar o sertão.

Hoje é dia de Maria é uma grande fábula cujas algumas metáforas são bem óbvias como a caminhada de Maria pelo sertão rumo ao mar que simboliza o rito de passagem da infância para idade adulta. Há algumas pitadas da famosa jornada do herói, ou seja, Maria parte em uma aventura em busca de algo de valor, porém seu maior tesouro será o amadurecimento que adquirirá durante sua viagem. Existe também o famoso guardião, que manifesta-se de diversas formas (todas interpretadas por Rodolfo Vaz) para auxiliar o herói em sua jornada.

Ao apresentar uma charmosa protagonista, a série também trás um interessante contraponto para ela na pele de Asmodeu (Stênio Garcia), o tinhoso em pessoa. Asmodeu é um ser folclórico que rouba a alma das pessoas ingênuas que não percebem que, na realidade, estão vendendo sua alma ao demônio. Ele não pode matar ou provocar uma desgraça diretamente. Ele é ardiloso e instiga os sentimentos ruins nas pessoas, também gera o conflito no coração dos seres humanos e pode até fazer nevar no sertão. Embora seja um ser cheio de poderes mágicos capaz até de roubar a infância de Maria – em uma das cenas mais felizes da televisão nos últimos tempos –, sua principal fraqueza é a crença de que é mais poderoso e inteligente do que realmente é.



Um dos cenários da obra

Imagem: http://www.spoiler3.blogger.com.br/HOJE%20DIA%20MARIA%20(2005).gif

Existem diversos personagens interessantes que aparecem durante a trama e infelizmente não há espaço para discorrer sobre todos neste espaço, mas alguns exigem uma menção obrigatória. Embora coadjuvantes, os Executivos (Charles Fricks e Leandro Castilho) roubam a cena quando aparecem para bater em defuntos que lhe deviam dinheiro enquanto vivos. A batalha de Maria contra eles é uma das melhores cenas da micro-série. Embora curta e singela, a cena é extremamente eficaz para o contexto da história.

Rodrigo Santoro interpreta o Amado de Maria, um pássaro que a acompanha em sua jornada durante o dia, mas que durante a noite transforma-se em homem.

Juliana Carneiro da Cunha, que interpreta a Mãe de Maria e as aparições de Nossa Senhora da Conceição, é irritante. Ela aparece para aconselhar Maria durante suas andanças, mas sempre com um ar de piedade exagerado. Parece que ela vai cair em prantos a qualquer instante. Que tipo de ajuda é essa?

Outro destaque fica para os belíssimos cenários que foram construídos dentro de um gigantesco domo que, na verdade, era a bolha do palco principal do Rock in Rio que foi transportado para o Projac. A idéia foi da diretora de arte Lia Renha, que imaginou um estúdio sem quinas, diferente dos tradicionais estúdios retangulares. Essa idéia beneficiou muito a produção, pois as cenas poderiam ser rodadas em 360º e os efeitos especiais ganham mais vida. As chuvas, por exemplo, molham o solo de verdade. Outro merecido destaque vai para o Grupo Giramundo, um grupo especializado em teatro de bonecos, responsáveis por todos os “animais” em cena.

Como bem disse o excelente ator Daniel de Oliveira, que interpreta o palhaço Quirino, em entrevista ao programa Altas Horas: “Hoje é dia de Maria é um sonho na televisão brasileira”. Duas linguagens foram mescladas (a do teatro e da TV) para criar algo totalmente original. Una a isso fantásticas interpretações e uma cenografia única e podemos acreditar que ainda existe esperança para televisão.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

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