sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Homem-Aranha 3

O novo uniforme negro liberta o lado "sombrio" de Peter
A última parte da trilogia cinematográfica do Homem-Aranha é polêmica. Foi o filme mais rentável do herói, mas o mais desastroso em matéria de críticas. Se o primeiro filme foi uma ótima apresentação do personagem para o grande público e o segundo um espetacular filme de super-herói (com visíveis toques autorais do diretor Sam Raimi apesar de tratar-se de um blockbuster com milhões de dólares em jogo), esta terceira parte deixa muito a desejar por diversos fatores. Os principais são o excesso de personagens e a perceptível intromissão do estúdio no processo criativo do filme.

Na trama, Peter Parker (Tobey Maguire) conseguiu equilibrar sua vida de super-herói com o seu relacionamento com Mary Jane (Kirsten Dunst). Porém, surge um novo vilão na cidade, o Homem-Areia (Thomas Haden Church), um indivíduo com fortes ligações com o passado de Peter. Harry Osborn (James Franco), o antigo melhor amigo de Peter, quer vingança após descobrir a verdadeira identidade do herói no filme anterior e por acreditar que o Homem-Aranha é responsável pela morte de seu pai. O herói ainda terá que lidar com seus demônios internos quando ele adquire um novo uniforme negro que, como uma droga libera o lado sombrio de Peter Parker.

O filme é rechedo de cenas de ação, mas somente ação não sustenta um filme

Pela sinopse, já é perceptível o excesso de subtramas. Mas o enredo ainda apresenta dois péssimos vícios dos quadrinhos que quase nunca dão certo: os retcons e as coincidências. Ele vale-se de um retcon (ou continuidade retroativa em português), processo criativo que reconta uma informação que já conhecemos com novos detalhes, para criar um elo emocional entre Flint Marko e Peter Parker. No caso do filme, eles sugerem que o Homem-Areia teria uma ligação com a morte do tio Ben mostrada no primeiro filme (sendo que o personagem nem tinha aparecido no primeiro filme e a morte do pai de criação de Peter havia sido narrada de outra forma). O problema de fazer isso é que você compromete a cronologia do que já havia sido narrado e corre o risco da plateia considerar que a nova informação apresentada era irrelevante para o andamento da história.

As coincidências são mostrar diversos personagens que possuem diversas ligações entre si de tal forma exagerada que nos parece que Nova York é uma cidade do interior onde todos se conhecem. Gwen Stacy (Bryce Dallas Howard), colega de classe de Peter, namora Eddie Brock (Topher Grace), que é um fotógrafo rival de Parker no Clarim Diário. A gosma alienígena que dá vida a roupa negra do Homem-Aranha cai bem no local onde Peter e Mary Jane estão namorando. Eddie está na mesma igreja em que Peter tenta se livrar do simbionte alienígena.  E por aí vai.

As cenas de ação são incríveis, claro. Mas quando essa ação e os efeitos especiais se sobressaem sobre atuações ou os dramas que norteiam os personagens (justamente o diferencial dos filmes anteriores que não deixavam isso acontecer), o filme acaba por se perder. É justamente aquela velha máxima de que às vezes recursos demais acabam por prejudicar esse tipo de projeto. Em muitos casos, com poucos recursos, um diretor acaba por aproveitar melhor tudo o que tem. Quando não existe esse limite, por diversas vezes, um filme de grande orçamento pode virar um punhado de cenas com efeitos especiais e nada mais do que isso. E é exatamente o que parece acontecer com este filme.

Havia a intenção de prosseguir com a história em um quarto filme com menos personagens e mais foco no drama, mas por divergências criativas, Sam Raimi e seu elenco abandonaram o projeto. Eles deram lugar a um recomeço da franquia pelas mãos de outra equipe criativa que chegaria aos cinemas anos depois.

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